A empresa aérea Gol implementou uma estratégia para economizar combustível que promete gerar polêmica. Em fevereiro, pilotos e comissários foram avisados que, se cumprissem as metas de redução no consumo de combustível, receberiam uma bonificação salarial. A intenção com o procedimento é diminuir os efeitos do prejuízo de R$ 1,5 bilhão registrado em 2012, valor 101% superior à perda contabilizado no ano anterior.
Divulgado
entre os funcionários em fevereiro, um informe avisava sobre a meta de
economizar 700 toneladas de combustível por mês. Para isso, incentiva os
pilotos a reduzirem em 40 segundos o tempo de cada voo, pede que façam rotas
mais diretas entre a origem e o destino e sigam procedimentos como a descida
direta, não em níveis, no momento da aterrissagem.
O
documento pede que os profissionais sigam outros procedimentos, entre eles, o
desligamento de um dos motores durante o taxiamento e que travem um dos
reversos (equipamento de frenagem da aeronave) em pousos em pistas longas. No
caso do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e no aeroporto Santos Dumont, no
Rio de Janeiro, o uso do reverso é obrigatório. No total, a Gol conta com 18
medidas que têm como prioridade a redução nos custos com combustíveis.
A
companhia analisou, ao longo do ano passado, os dados de 280 mil voos e a
conduta de seus 800 pilotos para entender qual era o nível de eficiência
do modus operandi de cada profissional com relação às práticas
de economia de combustível.
O
levantamento feito pela empresa em 2012 mostrou que cerca de cem pilotos
seguiam padrões altamente eficientes. Segundo Pedro Scorza, diretor de
operações da Gol, a medida visa disseminar este padrão e "incentivar uma
mudança cultural nos outros comandantes, baseados em comportamentos que a
empresa considera adequados".
A
segurança continua sendo o pilar principal de nossas operações e nenhuma das
atitudes vai impactar isso. Estamos falando em melhor gerenciamento de nossas
práticas e esta é uma oportunidade de ampliar a todo o grupo o que já era
praticado em menor escala.
A
medida, apesar de aceita pela Anac, é polêmica pois poderia, em último nível,
colocar em risco as operações caso pilotos flexibilizem medidas que priorizam a
segurança visando benefícios econômicos.
Esta
é a opinião de Carlos Camacho, diretor de segurança de voo do Sindicato dos
Aeronautas. Ele alerta que bonificar profissionais pode gerar competição e, se
os procedimentos não forem sistematicamente analisados, pode colocar em risco
as operações da empresa.
O
grande problema dessa medida é com relação à bonificação do piloto. Querendo ou
não querendo pode gerar ganância, uma corrida pela competição. As chances de se
colocar as operações de voo em risco são grandes.
Scorza
diz ainda que se a aérea economizar R$ 1,9 milhão por mês, cerca de R$ 820 mil
serão destinados a pilotos e comissários. A medida teria sido acertada em
janeiro e o primeiro aporte já seria feito em julho.
Decidimos
envolver a tripulação comercial, os comissários de bordo, porque eles têm
atuação importante em solo. São responsáveis por agilizar o embarque, usar de
forma adequada a infraestrutura diminuindo assim o tempo em solo e mantendo a
operação com menor custo possível.
Em
nota, a Anac afirma que programas semelhantes são utilizados por vários
operadores ao redor do mundo como forma de otimização do voo e não trazem
riscos às operações aéreas, desde que todos os requisitos de segurança sejam
cumpridos. E reitera que "todos os requisitos constantes nos regulamentos
continuam tendo que ser seguidos pelas empresas, obrigatoriamente".
A
adequação nas atividades da empresa não é nova. Por conta do "cenário
desafiador" do setor de aviação no ano passado, conforme a própria empresa
se referiu a situação do segmento durante coletiva de resultados, a alta de 18%
do combustível, a desvalorização do dólar ante o real de 17% e o crescimento
das tarifas aeroportuárias em 30% pesaram no bolso da empresa.
Além
disso, a Gol está adequando de forma radical sua malha para elevar a
rentabilidade de suas operações. Entre as medidas já anunciadas, há aumento de
frequências (voos de ida e volta) para destinos com maior fluxo de passageiros
e redução de frequências em rotas com menor demanda, basicamente no Norte e no
Nordeste.
Fonte:
Extra
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