Em visita a Belo
Horizonte, o site Piloto Policial teve a grata satisfação de visitar e conhecer
duas Organizações de Aviação de Segurança Pública (OASP) de Minas Gerais,
o BOA do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e o NOA da Polícia Civil de
Minas Gerais.
Além da
oportunidade ímpar de conhecer pessoalmente velhos conhecidos do mundo virtual,
tive contato com muita coisa interessante em termos de soluções e
acontecimentos que podem servir de exemplo para outras OASP do Brasil.
Nessa segunda
parte da reportagem falaremos sobre o Batalhão de Operações Aéreas do Corpo de
Bombeiros Militar de Minas Gerais, o BOA.
Aos moldes da
Polícias Militar e Civil, o BOA também tem suas instalações no Aeroporto de
Pampulha, em Belo Horizonte. Criado em 2006, o BOA completou no dia 07 de
novembro de 2013 sete anos de operação em apoio a comunidade mineira, voando um
média de 800 horas por ano, já tendo registrado mais de 2.500 pessoas
transportadas, sendo um número muito maior de pessoas atendidas mas não
transportadas por via aérea por questões operacionais ou de ordem clínica.
O BOA surgiu da
necessidade de agilizar o atendimento à população mineira, tendo em vista a
extensão territorial do Estado, que apesar de possuir a mesma área da França, o
CBMMG está presente em apenas 50 dos 853 municípios de Minas Gerais.
Atualmente, o BOA
conta com uma frota de 02 (dois) helicópteros AS350B2 VEMD e um avião Cessna
210L Centurion, todos com o já famoso e tradicional nome de chamada “Arcanjo”.
Cessna 210L Centurion em Missão de Combate a Incêndio no Aeroporto de Montes Claros
A novidade em
relação a frota do BOA é a aquisição de novos helicópteros biturbinas médios
Eurocopter EC145, a serem entregues ainda no primeiro semestre de 2014. Com as
novas aeronaves o BOA espera aumentar a sua capacidade operacional e a sua gama
de missões, em especial no que se refere ao transporte inter-hospitalar entre
as cidades do interior para a capital de Minas, que poderá ser feito a partir
de agora em condições IFR, além de missões visuais noturnas fora da Área de
Controle Terminal de Tráfego Aéreo de BH.
Apesar do relativo
pouco tempo de operações, os Arcanjos já fazem parte do cenário cotidiano do
Estado de Minas Gerais com suas atuações em missões de resgate aeromédico,
transporte inter-hospitalar, transporte de órgãos e combate a incêndio.
Apesar de Belo
Horizonte ser a sexta maior cidade populosa do Brasil, as maiores demandas
operacionais do BOA são no entorno da cidade e principalmente nas rodovias do
estado. Diferentemente do modelo de resgate aeromédico de São Paulo, o tempo
médio até um local de ocorrência dura entre 30 e 40 minutos de voo, contra
cerca de 15 a 20 minutos em São Paulo.
A equipe médica
que tripula as aeronaves do BOA são integrantes do SAMU e operam em conjunto
por força de convênio, sendo basicamente um médico e um enfermeiro que permanecem
de serviço junto ao hangar para casos de acionamento.
Uma tripulação
“normal” para atendimento de ocorrência aeromédica é composta de dois pilotos,
um tripulante operacional do CBM, um médico e um enfermeiro, ambos do SAMU. Em
caso de ocorrências mais graves e que a aeronave será a primeira guarnição a
chegar ao local, a tripulação é somada com mais um tripulante
operacional.
A configuração de
cabine utilizada pelo BOA para embarque de vítima é baseado no kit de maca na
longitudinal homologada pelo fabricante. Logicamente, a realidade e experiência
operacional do dia a dia do BOA acabou por requer algumas “adaptações técnicas”
muito interessantes.
maca utilizada é um modelo composto todo em alumínio, ao
contrario do modelo original com forro de couro sintético.
O BOA também
adaptou um pequeno banco de alumínio junto a extremidade da maca onde é
posicionada a cabeça da vítima, de modo que o médico consiga prosseguir em seu
atendimento durante o voo e mesmo assim permaneça todo o tempo ancorado no
cinto de segurança de três pontos da aeronave.
Solução bastante
interessante, frente outras soluções em que a ancoragem da equipe médica é
feita através de cintos tipo “rabo de macaco”.
Dessa forma, todas
as fases do voo de uma missão aeromédica do BOA/MG são realizadas com portas
fechadas, configuração de maca homologada e ancoragem com cintos três pontas
para toda a tripulação.
Logicamente, tal
opção de configuração de cabine tem alguns inconvenientes, principalmente em
questões operacionais.
O principal
inconveniente operacional reside no fato que de a instalação da maca
longitudinal requer a retirada do banco do copiloto e seus comandos de voo no
local da ocorrência. Tal modelo é similar ao realizado em ocorrências de apoio aeromédico da CHP – California Highway Patrol americana, e não leva mais do que
cinco minutos para sua configuração completa.
Outro aspecto
inconveniente é a questão da falta de espaço na cabine, quando do embarque da
vítima. Consequência disso, parte da tripulação permanece em solo no local da
ocorrência, sendo que a aeronave retorna ao local para reembarque ou prossegue
por via terrestre para o hospital para onde a vítima será transportada.
Como suas
ocorrências são em regra em rodovias e fora de centros urbanos, bem como a rede
de hospitais serem bem distribuídas geograficamente, tal retorno e reembarque
acaba sendo deveras facilitado.
A atuação do BOA
não se resume só aos atendimentos aeromédicos de emergência, mas eles também
são muito atuantes em missões de transporte e remoção interhospitalar. Em suma,
a unidade tem uma atuação muito próxima e atuante junto ao serviço de
saúde mineiro.
Ingresso dos
Tripulantes
O ingresso de
pilotos se dá por meio de concurso interno para oficiais. Os aprovados passam
pela formação aeronáutica (PP e PC) em escola civil credenciada contratada por
licitação pública, além de frequentarem o Curso de Comandante de Operações
Aéreas.
Os tripulantes
operacionais também são selecionados em concurso interno que os habilitam a
frequentar o Curso de Tripulantes Operacionais no próprio BOA.
Além de receber
tripulantes de co-irmãs, o BOA/MG tem um convênio operacional com a PMMG e
PCMG, através dos quais compartilham a formação de tripulações, tais como as
equipes de apoio de solo e pilotos de avião e helicóptero.
Atualmente, o
BOA/MG conta com 18 pilotos, 15 Tripulantes Operacionais, 7 Mecânicos e 7 TASA.
Já os médicos e
enfermeiros que tripulam as aeronaves são do SAMU e são selecionados por
critérios estabelecidos conjuntamente. Todos passam por instrução de
nivelamento, que conta com manobras de desembarque através de diversas
técnicas, segurança operacional, CRM, etc. As equipes são fixas e se
necessários revezam entre si. Tal curso é pré-requisito para a equipe médica voar
no BOA/MG.
Desde 2013 o BOA
possui a EFAER- Escola de Formação Aeronáutica, que está capacitada para a
realização de diversos cursos, dentre eles o PPH, INVH, Ground School, etc. A
ascenção técnica dos pilotos está prevista no MGO da unidade, que estabelece os
parâmetros necessários para que os pilotos possam se programar e se orientar
com vistas aos seus objetivos. A ascenção técnica se dá conforme as demandas
operacionais futuras da unidade, permitindo ao oficial a tranquilidade e a
segurança de ascender em plenas condições à nova função.
Todos os
comandantes de aeronave do BOA/MG passam por cursos de emergência, sendo
que está sendo planejado uma nova reciclagem ainda para o ano de 2014.
Manuais
O BOA elaborou seu
MGO em 2009 e ele vem sendo atualizado desde então. O documento foi
desenvolvido com a colaboração de todos os integrantes da unidade, que
trouxeram suas vivências na aviação e na atividade bombeiro militar e dessa
forma enriquecendo a qualidade do documento produzido.
Já em relação ao
MGSO, o mesmo ainda encontra-se em fase de desenvolvimento, com seus parâmetros
e instrumentos de mensuração sendo lapidados com vistas ao novo patamar
necessário ao voo IFR, que certamente exigirá um nível de preparação e
planejamento bastante superiores aos atualmente aplicados.
O BOA é uma
unidade com pouco tempo de existência mas que busca manter suas atividades em
alto nível de segurança e qualidade. Para isto foi fundamental o apoio de
diversos órgãos e pessoas, dentre os quais pode-se citar a PMMG, PCMG, SAMU-BH
e Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Minas Gerais.
Assim como em
todos os grupamentos desta natureza, a possibilidade de fazer a diferença na
vida das pessoas é um grande motivo de orgulho para suas tripulações. A
possibilidade de levar a vítima uma possibilidade de sobrevivência até então
impossível após um acidente ou coisa do gênero é ainda impressiona.
A frase repetida
por todos na unidade exprime o diferencial do BOA/MG:
“Pessoas são como
águas, crescem porque se encontram.”
A capacidade
agregadora, típica do povo mineiro, trabalhando em conjunto e dividindo os
louros dos bons serviços é motivo de orgulho no BOA. Também há união quando nem
tudo ocorre conforme o desejado.
Cada integrante do
BOA/MG responde com o seu melhor e assim são responsáveis pela sobrevida das
milhares de vítimas socorridas pelos Arcanjos mineiros, que são certamente
motivo de orgulho de toda a sociedade mineira.
Fonte: Piloto Policial
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