Um ano e três meses após o anúncio de
que a Gol havia chegado a um acordo para adquirir 100% do capital da Webjet, o
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) irá julgar nesta
quarta-feira (10/10) a operação, que custou R$ 43,443 milhões.
Passados 15 meses do negócio, o dólar em
alta alterou completamente o panorama do setor aéreo no Brasil e pode jogar a
favor da aprovação da aquisição pelo órgão antitruste. O processo deveria ter
sido julgado há 15 dias pelo Cade, mas, a pedido de vários conselheiros, o
relator do caso, Ricardo Ruiz, adiou a leitura do voto para esta quarta-feira.
O negócio entre duas das principais
companhias aéreas do País teve uma tramitação mais demorada que o normal porque
pegou toda a fase de transição do órgão para se adequar à nova lei de defesa da
concorrência, que entrou em vigor em maio deste ano. Durante esse período, a
situação financeira do setor mudou radicalmente.
O crescimento da demanda de passageiros
por voos internacionais e domésticos - um dos maiores fenômenos da chamada
"nova Classe C" - continua, mas o aumento do dólar tem estrangulado a
capacidade das empresas em lucrar em um cenário de competição ferrenha nos
preços das passagens.
Conforme o próprio conselheiro Ruiz
apontou, antes da última sessão do Cade, o dólar estava em torno de R$ 1,60 em
julho do ano passado, mas agora tem ficado constantemente acima dos R$ 2,00.
"Toda a operação do setor é dolarizada, sobretudo a manutenção e a
reposição de peças. Além disso, a querosene de aviação ficou muito mais cara
por causa da própria moeda e também por conta dos preços internacionais do
petróleo", comentou na ocasião.
Nesse cenário, as próprias companhias
aéreas admitem ter dificuldades em recompor suas margens, pois qualquer mudança
nas tarifas tem um impacto imediato na demanda que sustenta a expansão do
setor. Matéria publicada no último sábado pelo jornal O Estado de S. Paulo
mostrou que as empresas já se preocupam com novos prejuízos.
Segundo a Associação Brasileira das
Empresas Aéreas (Abear), cada 1% de aumento no preço das passagens acarreta uma
queda de 1,4% na quantidade de passageiros. "Algumas empresas podem optar
por deixar as aeronaves em solo, reduzindo algumas frequências para equilibrar
suas contas na operação. Mas os custos com manutenção e peças continuam",
disse Ruiz.
O conselheiro ressaltou, no entanto, que
falava do panorama do setor e não necessariamente do seu relatório para o caso
específico da compra da Webjet pela Gol. Mas uma fonte próxima ao caso avaliou
que as dificuldades enfrentadas pelas companhias aéreas nos últimos trimestres
por causa do câmbio reforçam os argumentos dessas empresas em processo de
fusão.
"É inegável que a junção entre duas
empresas traz sinergias e ganhos de escala que ficaram mais evidentes com a
nova situação do câmbio. A possibilidade de unificação de um centro de
manutenção e até mesmo a compra de peças em lotes poderiam ser exemplos
disso", afirmou um advogado.
A fonte destacou, porém, que - sob a
ótica do Cade - esses ganhos só são positivos se resultarem em benefícios para
os consumidores e para o mercado, sem a criação de distorções anticompetitivas.
Ainda assim, a avaliação é de que a nova realidade do câmbio facilite operações
dessa natureza no setor. "Outro caso em negociação envolve a Trip e a Azul",
lembrou a fonte.
Fonte : ÉPOCA NEGÓCIOS
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