O trem de pouso quebra e o avião se
arrasta por 800 metros
deixando diversas peças pelo caminho. Na noite do último sábado, a aeronave de
carga da empresa Centurion levou apenas alguns segundos para interditar a pista
do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), mas precisou de 45 horas para ser
removida. A conta? Dezenas de milhões de reais por dia de prejuízo para a Azul,
empresa responsável por 85% das aterrissagens e decolagens em Viracopos, além
de 30 mil passageiros prejudicados, quase 500 voos cancelados e 15 aeronaves da
companhia presas em solo.
Outras empresas aéreas, como Tam e Gol,
também usam o aeroporto, mas a Azul foi a mais prejudicada, pois não possui
licença para operar em outros terminais de São Paulo. “É difícil calcular o
prejuízo. Sabemos que são dezenas de milhões de reais por dia”, diz Gianfranco
Beting, diretor de comunicação da Azul.
O executivo preferiu não apontar um
culpado para a demora na liberação da única pista de Viracopos. “A questão é
entender porque demorou tanto, mas sabemos que as autoridades e a Centurion
fizeram tudo que estava ao alcance delas para resolver o problema.” Para o
professor do curso de ciência aeronáutica da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Ênio Dexheimer, o gigante de 149 toneladas que
encalhou na pista trará pesadas consequências para a Azul. “O acidente pode
comprometer o resultado positivo que a empresa teria no ano inteiro. Isto
porque as margens de lucro deste segmento são muito baixas”, afirma. O
especialista diz que a remoção lenta é resultado da falta de infraestrutura dos
aeroportos brasileiros. “O acidente não teve vítimas e o avião não pegou fogo,
portanto, nada justifica esta demora. Em qualquer outro aeroporto do mundo o
problema teria sido resolvido em poucas horas”, afirma.
A operação foi mal conduzida pela
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), diz o engenheiro
aeronáutico e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
(USP), Jorge Leal Medeiros. “A Infraero se apegou a uma lei que responsabiliza
a companhia aérea em casos como este, mas o gerenciamento da crise é dela. O
fato é que a Infraero ficou com medo da aeronave quebrar e ter que arcar com o
prejuízo”, afirma.
O equipamento que removeu a aeronave
contava com três partes, cada uma delas estava localizada em uma região do
estado de São Paulo. Segundo Medeiros, a Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) deveria obrigar cada operadora de aeroporto ter um equipamento deste.
O fato de Viracopos ter apenas uma pista
de pouso também agravou a situação. “Este é o resultado da falta de
infraestrutura dos aeroportos brasileiros”, diz Dexheimer, da PUC-RS. Mas
Viracopos não está sozinho. Apenas seis, dos 67 aeroportos administrados pela
Infraero possuem mais de uma pista.
A concessionária Aeroportos Brasil, que
administra Viracopos, anunciou em setembro deste ano a intenção de antecipar a
construção da segunda pista de pouso para 2017. O prazo inicial era 2023. Após
a conclusão das obras, o aeroporto se tornará o primeiro da América Latina a
ter operações simultâneas de decolagem e pouso.
As outras companhias aéreas tiveram
menos problemas para contornar o acidente. Os passageiros da Tam foram levados
para aeroportos próximos e acomodados em outros voos da companhia. Em alguns
casos, os clientes desembarcaram em São Paulo e foram transportados de ônibus até
Campinas.
A Gol direcionou os voos com destino a
Viracopos para os aeroportos de Congonhas e Guarulhos, região metropolitana de
São Paulo.
Fonte : IG
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