De janeiro a abril deste ano, seis aves se chocaram com aviões que
decolavam ou pousavam no Aeroporto Jorge Amado, na cidade de Ilhéus, no sul da
Bahia. O número é 200% maior do que o registrado em 2012 - em todo o ano, foram
duas as colisões viárias.
Além dessas ocorrências, a Empresa Brasileira de Infraestrutura
Aeroportuária (Infraero) local está em alerta devido ao alto número de
avistamentos de aves no aeródromo, 44 nos quatro primeiros meses do ano. O
Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes da Aeronáutica (Cenipa) já
esteve na cidade para inspecionar a situação.
"Nós tivemos um número significativo de aeronaves colidindo com
urubus ou aves da região, o que causa uma grande preocupação para a
administração do aeroporto. O risco de choque de uma ave gera sempre a
possibilidade de derrubar a aeronave, por isso, nós temos tentado identificar
os possíveis focos para minimizar a questão", diz Itaibes de Paiva,
superintendente da Infraero em Ilhéus.
Dos seis casos, uma das aeronaves precisou interromper o voo para
manutenção, o que até agora é considerado o impacto mais representativo.
Situado na Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes, o aeroporto, a porta de entrada da
Costa do Cacau, divide a cidade ficando entre um rio e o mar. "Nossa
preocupação é porque temos visto muitas aves. Tem o lixo produzido pela
população e a própria falta de educação das pessoas, que jogam resíduos na rua.
Temos que ir aos bairros para mostrar os riscos. Aqui é muito bonito, mas temos
que cuidar", esclarece.
O secretário municipal de Turismo, Alcides Kruschewsky, afirma que a
coleta de lixo é feita de modo regular. "O problema não é oriundo do lixo.
Temos hoje aterro sanitário, não está mais 'lixão'. Nós vamos acompanhar,
fiscalizar para tentar identificar possíveis focos de atração de aves para
fazer um trabalho preventivo. É comum o choque, é preciso que tomemos cuidado,
porque há disputa de espaço. Eles estão onde nós queremos voar", afirma.
A prefeitura constituiu comissão com representantes da Vigilância
Sanitária e das secretarias municipais de Saúde e Desenvolvimento Urbano para
diagnosticar o que tem atraído os animais. "Ela vai percorrer as áreas
próximas ao aeroporto e a rota dos aviões na cidade para identificar focos de
dejetos. Precisamos orientar pescadores que tratam peixes e deixam os restos na
areia, tem um matadouro privado, que funciona dentro das normas, mas que as
aves podem sentir o cheiro da carne", diz o secretário. Questionado, ele
confirma que urubus, por exemplo, são visíveis diariamente.
Ocorrências e riscos
A Bahia é o sexto estado em relatos de colisões
de aviões e aves nesses quatro meses do ano, com 63 casos. São Paulo (247), Rio
de Janeiro (223), Minas Gerais (91) e Mato Grosso (75) estão na frente. Os
números são atualizados constantemente no banco de
dados online do Centro de Investigação e Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Em todo o país, de janeiro até o dia 26 de
abril deste ano, foram 1.192 relatos de colisões, quase colisões e
avistamentos, contra 1.070 registrados até o mesmo dia de 2012.
O major aviador Henrique
Rubens de Oliveira, investigador do Cenipa, comenta que, como qualquer ser
vivo, as aves precisam comer, beber e dormir. Por isso, quanto mais atrativo o
local oferecer, mais frequente é o fluxo de animais. "As aves também
precisam atender as necessidades básicas. Elas se balizam muito por esses
atrativos e pelas estações de ano", explica. Além de lixo exposto,
curtumes, frigoríferos, abatedouros e mesmo as paisagens naturais costumam
chamar a atenção dos animais.
Segundo o investigador, são mais de 400 mortes já
registradas na história da aviação civil e militar mundial em decorrência de
contatos aéreos de aves com aviões, afora casos com suspeitas ainda não
comprovadas ou desconhecidas. "Os pesquisadores deixam claro que os
números são muito maiores", afirma.
Um problemática apontada pelo setor especializado da
Aeronáutica para o aumento de casos é a urbanização do entorno dos aeroportos,
infraestrutura que geralmente reúne residentes e comerciantes e, por
consequência, gera mais lixo. "Há 50/60 anos atrás, a cidade não estava
muito próxima ao aeroporto. A população usa o solo como bem quer e geralmente
vai para o local que está melhor para ela. Essa preocupação está aumentando na
indústria de aviação mundial", comenta.
O major Rubens acrescenta que foi criada a lei de número 12.725,
ainda não regulamentada, mas que estabelece regras para diminuir o risco de
acidentes ou incidentes aeronáuticos com espécimes da fauna. "É a primeira
lei sobre a presença de aves e risco aviário. A gente não pode dar essa
atribuição para autoridade aeronáutica; pela Carta Magna, é do poder
público", aponta.
Urubu, garça, carcará e quero-quero são algumas das aves
que consomem matéria orgânica ou vermes do lixo. O impacto da batida desses
animais com aeronaves depende conforme o modelo. Uma turbina de um avião de
passageiro de grande porte, um Boeing ou Airbus, por exemplo, tem o limite de
3,65 kg, sustentando, no máximo, dois urubus, já que cada um pesa cerca de 1,5
kg.
"O motor do avião, em cada minuto de funcionamento,
com potência máxima, suga o ar que daria para encher uma piscina olímpica, para
empurrar o avião mais rápido. Se entrar um urubu em cada as turbinas continua
voando. E eles foram projetados também para voar com uma turbina só",
detalha.
Em 2009, nos Estados Unidos, um Airbus A320 precisou
fazer um pouso de emergência no Rio Hudson, em Manhattan, Nova York,
com 155 pessoas, após choque com aves, um dos casos mais emblemáticos da
ocorrência.
Fonte: G1/BA
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